segunda-feira, 15 de maio de 2017

Sem vitória

O Avaí começou com o Vitória, mas não com vitória, a Série A do Campeonato Brasileiro, num 0 a 0 que foi ruim para as pretensões do clube no campeonato, em casa e diante de um adversário direto na luta contra o rebaixamento. Velhos problemas ofensivos e um pênalti escandaloso não marcado a nosso favor no segundo tempo ajudam a explicar o resultado.

Na estreia em sua nona participação na Série A, o Avaí deixou em estado de nervos aqueles tradicionais torcedores do setor A que vivem bradando "tira esse time de trás!" ou os mais jovens do setor D que berram "desenterra esse time!". O comportamento do Leão em casa contra um time que também deve brigar para não cair e que tinha seis desfalques deve indicar qual vai ser a tônica da equipe na competição, caso Claudinei Oliveira permaneça até o fim: fechadinho, compacto, esperando a oportunidade para o contra-ataque.

O que se viu foi o Vitória tendo bem mais posse de bola, o que sempre passa a impressão de estar jogando melhor. Mas, no frigir dos ovos, os dois times se equivaleram em chances de gol criadas na primeira etapa - umas duas pra cada lado -, que, aliás, foi bem fraca.  No início do segundo tempo, houve uma blitz do Vitória no início, quando o time baiano chegou perto de marcar ao chutar a bola na trave pela segunda vez na partida (houve uma no primeiro tempo também).

O Avaí conseguiu equilibrar a partida do meio para o final do segundo tempo e também teve oportunidades, mas sempre faltou um pé pra empurrar a bola para dentro ou uns centímetros a mais para Rômulo marcar de cabeça. A história, claro, poderia ter sido diferente se o árbitro Felipe da Silva, meu quase homônimo, tivesse marcado pênalti num lance em que o zagueiro Renê quase atorou a perna de Júnior Dutra dentro da área.

O empate acabou sendo coerente com o que as duas equipes fizeram em campo, mas injusto pelo fato de o Avaí ter sido prejudicado pela arbitragem.

Defesa bem

Não foi uma partida perfeita - houve momentos de bateção de cabeça -, mas o sistema defensivo do Avaí, no geral, foi bem mais uma vez, principalmente a dupla de zaga Alemão e Betão. Carregando a pecha de "jogador de time pequeno", Alemão saiu-se bem no seu primeiro jogo de Série A com o Leão. Nos últimos seis jogos, o time titular (ou seja, sem contar a partida contra o Inter de Lages) do Avaí sofreu apenas três gols. A defesa é o setor que menos preocupa.

O deserto ofensivo

Por outro lado, o time titular do Avaí marcou apenas dois gols nos últimos seis jogos. Um desempenho que pra ser pífio ainda precisa melhorar bastante. Credito isso aos fatos de termos um meio-campo que contribui muito pouco para as ações ofensivas e de nosso esquema de jogo ter caído na previsibilidade.

O Avaí vem jogando no 4-2-3-1 durante o ano todo. Desde o início da temporada, ficou claro que nossas ações ofensivas dependiam muito das jogadas de lado de campo, com os meias-atacantes abertos e os laterais. O que os adversários começaram a fazer é "povoar as laterais", colocando meias e atacantes abertos para atrapalhar os avanços de nossos laterais.

Com laterais presos, restar-nos-ia a saída pelo meio, mas aí é que as coisas se complicam. Nossos dois volantes, Luan e Judson, são um desastre quando ultrapassam a linha do meio do campo. Luan mesmo fica mais perdido que cego em tiroteio quando se aventura no ataque, enquanto Judson até tem alguma velocidade e arrisca chutes, mas cada vez que ele tenta uma finalização de longe, morre um filhotinho de Leo Gago. É cada chute mais torto que o Scarpelli...

Precisamos falar sobre o M10

E, por fim, temos Marquinhos. O meia, camisa 10, cérebro, coração e alma do time. O ídolo, o homem que não pode sair (e quando sai ainda acha ruim) porque, em algum momento, vai acertar uma cobrança de falta ou colocar um atacante na cara do gol. O problema é que, enquanto esperamos que antigos espíritos do bem ou do mal transformem aquela forma decadente no Marquinhos de 2009, os jogos vão passando, passando, passando e... nada.

Eu gostaria de ver esses jogos que alguns veem nos quais Marquinhos "distribui jogo", "arma jogadas" ou, ainda, aquelas partidas em que o Avaí jogou mal porque "Marquinhos estava bem marcado e não conseguiu armar jogadas". Por favor, peguem os números do M10 neste ano (dois gols e um passe para gol em 18 partidas). Vejam os lances de gol do Avaí no ano - ele nunca participa das jogadas. Olhem os melhores momentos do jogo contra o Vitória. Nas poucas chances que o Avaí criou, onde ele estava? Chutando a gol? Dando passe para gol? Não. Não estava em nenhuma. Só apareceu para bizarramente jogar de zagueiro e desviar um chute do Denílson que iria pro gol.

Marquinhos não está porque não consegue - acredito que por algum problema físico, pois um jogador de 35 anos ainda tem, em tese, lenha pra queimar - jogar contra volantes que correm feito cachorros loucos. Consegue tocar na bola quando vem buscá-la na linha do meio do campo, ficando praticamente em linha com um dos volantes. Aí, ou toca ela pro lado ou tenta lançamentos infrutíferos. Pra quê?

E Marquinhos não é cobrado. Cobra-se do Júnior Dutra, que tem sete gols e quatro assistências no ano. Do Denílson, que tem oito gols e uma assistência. Do Rômulo, que tem seis gols e três assistências. E do M10, nada. Ele, o melhor kicker do futebol catarinense, tem um gol e uma assistência em bola parada no ano. O limitado Diego Jardel, que deve ter cobrado menos de um décimo das faltas e escanteios que o Galego cobrou no ano, já tem três assistências de bola parada.

Até quando vamos ficar nesse reino da fantasia imaginando o Marquinhos de 2009 enquanto vemos o de 2017? Acredito que até o momento em que começarmos a levar porrada atrás de porrada de times que vão vir voando contra nós. Como torcedor quer é resultado, pode ser que surjam cobranças. Mas quem sabe também, os canhões serão apontados novamente para o Rômulo, "que não serve", para o Denílson, que é "displicente", para o Evando, "que escala o time", e por aí vai...

Ressacada não faz diferença

Com o empate contra o Vitória, o aproveitamento do Avaí no ano na Ressacada cai para menos de metade dos pontos: 48,7%, ou 19 pontos somados em 39 possíveis. Fora de casa o aproveitamento sobre para 61,5%, ou 24 pontos de 39 possíveis. Já são três jogos seguidos (Almirante Barroso, Chapecoense e Vitória) sem fazer gol em casa.

Acredito que esse fenômeno ocorra pelo fato de o Avaí ter como característica esperar o adversário para sair no contra-ataque. Acontece que para isso dar certo tem que combinar com os russos, como diria Garrincha. Muitas vezes o adversário também joga fechado fora de casa e dá a bola para o Avaí tentar criar. Aí é que começa o desespero. Sem qualidade, o nosso time embanana-se e não sabe o que fazer para agredir um adversário. Nosso negócio é contragolpear.


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